Vivência do desassossego em Fernando Pessoa e a experiência do desemparo na Psicanálise
uma aproximação
Keywords:
Desamparo, Desassossego, Falta, Recurso literárioAbstract
O presente trabalho tem como propósito levantar a hipótese de que a vivência inquietante e permanente do desassossego em Fernando Pessoa pode ser compreendida como efeito da experiência do desamparo, entendido segundo a conceituação que dele fez Sigmund Freud. O Poeta, ao perder ainda na infância “o pai”, a “velha casa” e o “amor de sua mãe”, quando esta se casou pela segunda vez, sentiu-se “existencialmente desamparado”. Tal estado, quem sabe, possibilitou ao Poeta criar, inconscientemente, uma ficção que o levou para fora de si, projetando-se nos vários personagens que compuseram a sua obra literária. Com este artifício de multiplicar-se, Fernando Pessoa tentou dar conta de uma unidade: ele-mesmo. Porque, ao viver esta experiência nos eventos de perdas na infância e que lhe davam a impressão de que era um ser dividido, deu-se conta do seu “estado de desamparo”, revelando-nos, através do recurso literário, a dimensão relativa à falta estruturante e irrepresentável da sua vida. Desta maneira, criou uma saída para tentar elaborar o seu desamparo, nomeando-o posteriormente, em sua obra literária, de desassossego.