Da maldade banalizada
uma análise sócio-antropológica do medo e da violência legitimados por regimes ditatoriais no conto O jantar, de Julián Fuks
Keywords:
Violência, Medo, Ditadura, Literatura brasileira contemporâneaAbstract
Propomos, neste artigo, uma leitura do conto “O jantar”, do escritor paulistano Julián Fuks, enfocando as configurações do medo e da violência legitimados por regimes políticos ditatoriais. O texto narra a visita de um jovem brasileiro chamado Sebastián a uma velha tia que mora na Argentina, com o propósito de participar de uma reunião que deveria ser prazerosa a ambos: um jantar em família. No entanto, a trama do texto vai se revelando como uma situação opressiva e ameaçadora à liberdade de expressão e à própria vida. Visando enfatizar a maneira pela qual o autor mimetiza os percalços do combate que a personagem enfrenta ao sentir-se imolado por uma lembrança dolorosa dos atos de barbárie impetrados pelo regime de ditadura que desestruturou sua família, recorremos ao pensamento de BAUMAN (2012), ARENDT (2013) e ZIZEK (2014) para ratificar e esclarecer a percepção de que a proposta do autor (bem como de muitos autores contemporâneos) é atrelar a estética a grandes questões éticas, em uma associação que nos deixa reconhecer a importância de um projeto literário bem elaborado, no qual linguagem e pensamento estão presentes de modo a provocar inquietações nos leitores e insuflar-nos à reflexão que conduz ao conhecimento amplo acerca de questões polêmicas da nossa vida, superando concepções superficiais que geralmente são cultivadas em relação a temas sociais.