HOMO APOSENTADUS
a emergência do novo velho
Palavras-chave:
Envelhecimento, Aposentadoria, PsicanáliseResumo
O neologismo do título suscita o inevitável: envelhecimento e aposentadoria são ocorrências intimamente correlacionadas, uma díade ainda pouco estudada pela psicanálise. Este fenômeno social sofre, no Brasil, influência socioeconômica, produzindo rebatimentos importantes na economia psíquica do indivíduo nesta etapa de vida. A entrada nesse contexto marca o psiquismo significativamente, afirma Peixoto (2004). Portanto, a aposentadoria é um momento de mudanças nos aspectos sociais e emocionais: o fator tempo e a sensação de maior proximidade da morte, a falta do reconhecimento social, o esvaziamento da rotina, a mudança brusca de hábitos; mas também pode ser uma época de realizações, ressignificações, trabalho e prazer. Coletou-se depoimentos de três homens e três mulheres, todos aposentados, faixa etária entre 61 e 72 anos, através de entrevista semiestruturada, permitindo uma análise qualitativa de aspectos psicológicos dessa temática. Observou-se, como resultado, um aproveitamento positivo da aposentadoria e uma vivência mais harmoniosa nos que tiveram um entendimento antecipado e aprofundado do que seria aposentar-se, além de planejamento elaborado, somado à persistência deste ideal. Em contrapartida, o desconhecimento sobre o assunto, a impotência econômica e as doenças surgem como fatores negativos que configuram uma experiência difícil na aposentadoria. Ademais, perceberam-se, na primeira situação, as evidentes expressões psíquicas de sujeitos ainda desejantes, com ideais singulares, não obstante a maior proximidade da morte. Sem dúvida, um fenômeno que exige uma reorganização psíquica e, portanto, a necessidade de melhor compreendê-lo.