Relações de afeto em famílias abusivas sob a ótica psicanalítica
Palavras-chave:
Relações de afeto, Psicanálise, Famílias abusivas, Abuso sexual contra a criançaResumo
Este artigo propõe-se a apresentar a complexidade dos fatores implicados no contexto do abuso sexual intrafamiliar contra a criança. Através da revisão crítica da literatura, faz-se aqui um movimento de problematizar o paradigma social de culpabilização/vitimização, adotando a perspectiva psicanalítica da responsabilização dos sujeitos envolvidos na configuração de famílias abusivas. Para tanto, utilizamo-nos de aspectos particulares à cultura brasileira, como a lenda do boto-cor-de-rosa, executando uma análise do caráter regulador dos mitos como meios de expressão coletiva da cultura da evitação, que retroalimenta o abuso sexual, através do silêncio. Adentramos, ainda, em uma exploração das possíveis representações inconscientes que se estruturam na família abusiva, utilizando a concepção freudiana da sexualidade e a concepção lacaniana da linguagem, ensaiando os possíveis vínculos afetivos que são ignorados pela esfera pública e jurisdicional. Diante do exposto, verifica-se neste trabalho que o fenômeno do abuso sexual intrafamiliar contra a criança respalda-se no processo de identificação no qual o adulto revive os complexos familiares e projeta no corpo da criança a metáfora do desejo edipiano. A compreensão do abuso como produto da reminiscência edípica é fundamental para assegurar a escuta ética e individualizada, nos mais diversos âmbitos institucionais, sendo tal fenômeno constante no processo de trabalho do profissional psicólogo.