O amor não tem bons sentimentos: o que a psicanálise pode dizer?
Palabras clave:
O amor não tem bons sentimentos. Literatura. Psicanálise. Psicose.Resumen
Este artigo tem como objetivo refletir sobre a loucura do protagonista Mateus, em O amor não tem bons sentimentos (2007), do escritor pernambucano Raimundo Carrero, a partir de uma abordagem Psicanalítica. Tal perspectiva procura se contrapor à lógica biomédica, da Psiquiatria Clássica, indo além de causas orgânicas, no que se refere à explicação da loucura. Prioriza as vicissitudes das relações primárias como ponto chave para uma constituição subjetiva saudável (ou não), focando, principalmente, nas nuances do vínculo mãe-bebê, o qual precisa ser mediado por um terceiro, para nos tornarmos sujeitos interditados ao gozo materno. Essa operação
simbólica de corte (castração) pode nunca ter acontecido para o personagem em questão, que procura recriar a todo momento a sua realidade dolorosa, tendo como base sua relação com o Outro absoluto. Isso pode ter desencadeado o quadro clínico da psicose como uma alternativa para Mateus suportar o seu sofrimento psíquico, remodelando delirantemente a realidade intolerável. Para fundamentar teoricamente essa hipótese, realizamos uma análise sobre a obra literária, conciliando com uma pesquisa bibliográfica, no campo da psicanálise, contemplando, assim, estudos prévios eferentes à temática da psicose. Portanto, o presente artigo pode contribuir para as ciências humanas - principalmente, a Psicologia/Psicanálise -, pois enfatiza a literatura como uma ferramenta para o fazer científico. Assim, este trabalho pode ser usado como referência no sentido de utilização de obras literárias para a construção de um raciocínio clínico.